expresso.pt - 9 ago. 15:11
Ligação das pessoas à natureza tem vindo a diminuir e isso contribui para “crise ambiental”
Ligação das pessoas à natureza tem vindo a diminuir e isso contribui para “crise ambiental”
“É necessária uma mudança transformadora se quisermos mudar a relação da sociedade com a natureza”, explica o investigador responsável pelo estudo publicado na revista Earth
A ligação das pessoas à natureza caiu cerca de 60% desde 1800, revela um artigo cientifico publicado no final de julho na revista Earth. O estudo, realizado pelo professor da Universidade de Derby Miles Richardson, conclui que essa perda é impulsionada pela urbanização, pela degradação dos ecossistemas e pela quebra na transmissão geracional, isto é, quando os pais deixam de passar aos filhos a orientação e o interesse pelo contacto com o mundo natural.
A perda de informação entre gerações é considerada o “fator mais determinante para prever a ligação dos filhos à natureza”, lê-se no estudo. A análise recorreu a dados de 220 anos sobre urbanização, perda de biodiversidade e indicadores culturais, como o uso de palavras ligadas à natureza em livros. Outra descoberta apresentada no estudo foi o desaparecimento gradual de palavras como “rio”, “musgo” e “flor” das obras publicadas. Entre 1800 e 2020, o ponto mais baixo foi atingido nos anos 90 do século XX.
Em declarações ao The Guardian, Richardson diz que a “ligação à natureza é agora reconhecida como uma causa fundamental da crise ambiental”, acrescentando que é “vital também para a nossa própria saúde mental”.
A investigação também projetou diferentes cenários até 2125 e as conclusões não deixam margem para dúvidas: mesmo com intervenções profundas, como grandes projetos de arborização urbana e iniciativas para reforçar o contacto com o mundo natural, a tendência de afastamento deverá manter-se até 2050. “É necessária uma mudança transformadora se quisermos mudar a relação da sociedade com a natureza”, sublinha.
Segundo o estudo, apenas as intervenções mais ambiciosas, como aumentar drasticamente a presença de espaços verdes biodiversos nas cidades e reforçar o contacto com a natureza desde a primeira infância, conseguem criar um ciclo de recuperação a longo prazo.
Richardson explicou que, embora um aumento de 30% nas áreas verdes urbanas possa parecer um progresso significativo, os resultados indicam que será preciso tornar as cidades 10 vezes mais verdes para inverter a tendência. Além disso, o investigador alerta que o tempo para agir é curto: as políticas precisam de ser implementadas nos próximos 25 anos para reverter o declínio.