Paula Peixoto - 14 ago. 14:00
A saúde mental constrói-se com confiança
A saúde mental constrói-se com confiança
A produtividade, a criatividade, a resiliência e a qualidade do trabalho são impactadas diretamente quando os profissionais não estão a 100%.
E ainda assim, muitas empresas continuam sem criar mecanismos eficazes de escuta, acompanhamento e resposta. Criar estes canais seguros deve ser uma prioridade estratégica.
O bem-estar psicológico não pode ser tratado como uma exceção ou uma resposta a uma crise. Deve ser uma parte integrante da gestão diária de equipas. Assim, é fundamental perceber que cuidar da saúde mental exige compromisso e ação. Requer que os líderes estejam atentos, preparados e disponíveis. Que estabeleçam processos claros, acesso a apoio técnico especializado e linhas de ajuda anónimas e acessíveis. No fundo, que promovam uma cultura que esteja de braços abertos para acolher.
Porém, nem todos os líderes de equipa, por exemplo, têm as competências necessárias para fazer este caminho. E é precisamente por isso que o papel das organizações é tão relevante, especialmente através do investimento em formação. Estas são as pessoas que estão na linha da frente e devem ser capazes de identificar sinais, encaminhar e acompanhar os seus colaboradores – mesmo quando não existe uma partilha direta. Um líder atento é, muitas vezes, o primeiro ponto de contacto entre um colaborador e o apoio que precisa.
Por outro lado, é também importante capacitar cada pessoa para reconhecer e gerir a sua saúde mental de forma autónoma, segura e confidencial e anónima, a reconhecer e gerir o seu bem-estar mental. A realidade é que a saúde mental deve ser trabalhada de forma constante, com medidas que promovam equilíbrio, segurança e qualidade de vida para todos – empresa e colaborador.
Na minha experiência, o que transforma verdadeiramente uma empresa num espaço seguro é a forma como as pessoas se sentem vistas, ouvidas e respeitadas. O desafio não é técnico, é cultural. E é neste aspeto que temos de trabalhar: como podemos construir uma cultura assente na confiança? Porque sem ela, não há espaço para que estas questões sejam identificadas, sinalizadas, apoiadas ou encaminhadas. Se não existir uma relação próxima e verdadeira entre a empresa e os seus colaboradores, não haverá momentos de escuta real nem empatia genuína. Nesse cenário, iremos continuar a ver a saúde mental como algo externo à organização. E isso, é um erro.
A verdade é que sem pessoas, não há equipas. Sem equipas, não há projetos. E sem projetos, não há empresas. É um ciclo longo, mas que começa sempre da mesma forma: com as pessoas. Cuidar da saúde mental dos colaboradores e das equipas não é apenas uma responsabilidade – é uma condição essencial para o sucesso de qualquer organização.